Um dos assuntos que mais interessam à odontologia é o controle da dor, seja através dos anestésicos ou dos analgésicos. Neste post trataremos do modo de ação dos anestésicos locais, os quais são utilizados em cerca de 95% dos procedimentos clínicos odontológicos.
Para compreendermos esse mecanismo somos 'obrigados' a relembrar um pouco de anatomia e fisiologia do sistema nervoso. Sabemos que o neurônio é a célula que forma todo o sistema nervoso, a unidade fundamental, e que existem dois tipos deles: o sensitivo (aferente) e o motor (eferente). Para interesse desse estudo, iremos considerar o neurônio sensitivo. Ele possui três partes: processo periférico (ou zona dendrítica), processo central (ou axônio) e corpo celular (que se localiza no centro da célula). Os dendritos transmitem a mensagem de um neurônio a outro, através de ligações químicas, o axônio é semelhante a um fio por onde o potencial de ação elétrico se propaga e o corpo celular, neste tipo de neurônio, é o provedor do metabolismo, porém não participa da transmissão do impulso.
Nos seres humanos, a maioria dos nervos é do tipo mielínico, ou seja, possuem uma bainha que reveste o axônio de modo a isolá-lo elétrica e farmacologicamente. Porém essa bainha não é contínua, possui pequenos intervalos, onde há exposição do axônio, que denomina-se de nodo de Ranvier, esse espaço expõe sobretudo a membrana nervosa que é rica em pequenos canais por onde penetram os íons de sódio que estão no meio extracelular.
O processo pelo qual o nervo periférico transmite um impulso para que o sistema nervoso central interprete como dor está diretamente relacionado e dependente dessa penetração de Na+, pois é a partir dela que o axoplasma (meio interno do axônio) sofre despolarização e gera o potencial de ação elétrico (o impulso nervoso, em outras palavras). Por isso que a ação dos anestésicos locais é específica nesses canais iônicos de sódio.
Existem várias teorias para a explicação do modo como o anestésico atua, porém a mais aceita atualmente é a Teoria do Receptor Específico. Segundo ela: a solução anestésica atua retirando íons de cálcio do canal de íons de sódio e se agregando onde eles estavam, formando um bloqueio no canal onde ele fica obliterado e não há permeabilidade para o sódio. Dessa forma não ocorre a despolarização e é evitado que o potencial de ação elétrico se origine ou se propague, caso já tenha sido originado anteriormente. Seria um receptor específico para a molécula do agente anestésico, que poderia estar localizada abaixo, no axoplasma, ou no meio do canal.
Enfim, desse modo os anestésicos de uso local cumprem seu dever: controlar a sensação de dor através do bloqueio químico na membrana nervosa, possibilitando ao cirurgião-dentista realizar suas atividades e ao paciente se submeter sem medo aos procedimentos.
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